Tempo: Possibilidades em meio as tragédias
Geralmente nos deparamos com inúmeros questionamentos referentes ao tempo, na verdade não temos uma compreensão real do que seja realmente o tempo, por convenção sabemos que o mesmo é cronológico. Mas seria tão somente isso o tempo?
Dentro da Filosofia em especial com Santo Agostinho, temos um tempo psicológico, isto é, um tempo intrínseco com uma valorização do presente, desde as memórias vividas até mesmo da expectativa pelo futuro. No entanto não desejo prender-nos com questões filosóficas, mas sim numa perspectiva humana, ou seja, relação do tempo com o indivíduo. Deparei-me com uma indagação há um tempo atrás, na qual um aluno me questionou "professor, quando tempo nós ainda temos?" Deveras interessante a pergunta, pelo fato que desconheço o tempo e também desconheço o término do mesmo.
Percebi que com tal questionamento deveria me propôr a um exame de consciência, não simplesmente sobre o que é o tempo em si, mas como vivo este tempo que me fora agraciado por Deus. Neste mundo voltado a tantas preocupações e tantas prioridades, é de suma importância viver de acordo com princípios próprios e valorizar o que realmente me gera um crescimento. Através disso, a valorização está em desuso neste "tempo líquido", pois trago para perto de mim status, aplausos e poder, gastamos tempo com tudo isso, ou acumulamos aprendizado?
O tempo é um exímio professor, nos ensina com o sofrimento e as dores, porém, não creio que o tempo nos castigue na busca pelo aprendizado, o castigo é fruto da falta de percepção da própria realidade, ou ainda, do próprio presente. Nos alerta Agostinho de Hipona sobre a valorização do presente, mesmo assim focamos nossos esforços ao que virá no futuro. Mas que futuro seria esse? Como viverei um futuro se não valorizo o hoje? A lógica da vida não é pular etapas, mas apreciar o que temos de mais gracioso, a nossa existência.
Sofrimento está ligado diretamente conosco, exemplo é a catástrofe que está ocorrendo aqui no Sul, tragédia não na forma de escrita, mas na forma de vivência, tragédia essa que nos ocorre no agora. Não visamos o futuro de forma imediata, mas organizar o presente, pois bem, seria necessário surgir uma tragédia humana para que o ser humano valorize o presente? Possivelmente vivemos uma tragédia humana e já faz tempo, perdemos a capacidade de empatia, de respeito, valores estes que perduram desde os primórdios da humanidade, então caros leitores, o que valorizamos hoje?
Por falar em tempo, me recordo da expressão de Kung Fu Panda, no qual nos ensina "Ontem é história, amanhã é mistério, hoje é uma dádiva, por isso é chamado de presente", não percebemos tal presente, pois estamos lutando com o próprio tempo. Devemos olhar de forma diferente nossa relação com aquele, Bergson nos diz que o tempo é possibilidade, pois bem, se é possibilidade, que possamos possibilitar o surgimento de nossa humanidade, não somente em meio a tragédias, mas em nosso agora.
O tempo não nos ameaça mais, agora o mesmo é uma continuidade de várias experiências, nais quais vamos nos transformando em novos indivíduos. Valorizando aquilo que nem mesmo o tempo é capaz de acabar, os valores. Portanto, vamos viver o agora, com a expectativa do futuro e as recordações do passado, nos ressignificando todos os dias, para um dia contemplarmos o que realmente importa, nossa existência em sua totalidade.
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